Antero de Quental
(1842-1891)
A JOÃO DE DEUS
Se é lei, que rege o escuro pensamento,
Ser vã toda a pesquisa da verdade,
Em vez da luz achar a escuridade,
Ser uma queda nova cada invento:
É lei também, embora cru tormento,
Buscar, sempre buscar a claridade,
E só ter como certa realidade
O que nos mostra claro o entendimento.
O que há-de a alma escolher, em tanto engano?
Se uma hora crê de fé, logo duvida:
Se procura, só acha... o desatino!
Só Deus pode acudir em tanto dano:
Esperemos a luz de uma outra vida,
Seja a terra degredo, o céu destino.
Antero de Quental
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