segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Evocar Fernando Pessoa



“A criança que fui chora na estrada”*.
E sucedeu assim com todos nós.
Deixarmos uma infância abençoada
Seguindo a vida em marcha tão veloz!

Mas Pessoa confessa não ser nada.
Pessoa, que elevou a sua voz
A exortar Portugal, sua alvorada,
Lembrando os feitos de nossos Avós!

O seu soneto, eu volto a evocar
P’la ânsia que tinha, em si, de encontrar
Um pouco do que foi e já não era.

Desejo de ao passado retornar,
A todos nós pretendeu ofertar,
Por não o aceitar como quimera

Maria da Fonseca

*inspirado no soneto de Fernando Pessoa que
apresento a seguir



A criança que fui chora na estrada.
Deixei-a ali quando vim ser quem sou;
Mas hoje, vendo que o que sou é nada,
Quero ir buscar quem fui onde ficou.

Ah, como hei-de encontrá-lo? Quem errou
A vinda tem a regressão errada.
Já não sei de onde vim nem onde estou.
De o não saber, minha alma está parada.

Se ao menos atingir neste lugar
Um alto monte, de onde possa enfim
O que esqueci, olhando-o, relembrar,

Na ausência, ao menos, saberei de mim,
E ao ver-me, tal qual fui ao longe, achar
Em mim um pouco de quando era assim.

Fernando Pessoa

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