Ao soar da meia noite,
Passeiam pela viela,
Os gatos silenciosos,
Que deslizam com cautela.
A Lua tudo ilumina.
Por entre o lixo e a sucata,
Percebe-se 'inda o perfil
Da tão glamorosa gata.
Foram todos convidados
Para o seu baile anual.
E vão chegando um a um,
Nesta noite especial.
O ambiente tão triste
De degradada pobreza
Transforma-se por magia
Num cenário de beleza.
Dançam e cantam os gatos
Em ritmo enfeitiçado,
Recordando com ardor
Memórias do seu passado.
Primero lentos, arteiros,
A observar, sem ruído.
Depois correm e apanham
O rato desprevenido.
Não se arrependem sequer
Das antigas travessuras.
Nem da sua vida errante,
Com centenas de aventuras.
Uma gata vai-se embora.
Seu guia a ajudará
Com o saber dos seus anos.
Do mundo se elevará!
É Glamorosa que parte,
Com saudade da viela,
Onde tão feliz viveu,
Quando, aí, era a mais bela.
Rendida, alegre e ousada,
A gatinha muito amou.
Coração apaixonado,
O luar testemunhou.
Uma outra vida a espera,
Agora que envelheceu.
É próprio da natureza,
Tudo o que lhe aconteceu.
Assim, os da sua espécie
Escutam o adeus ardente
Da velha gata saudosa,
Na sua canção plangente.
A escada do paraíso,
Sobe de cabeça erguida.
Leva consigo a Memória
Dos amores da sua vida.
Maria da Fonseca
(como vi a ópera CATS de Andrew Lloyd Webber)
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