quinta-feira, 30 de agosto de 2012

As Pedras da Lua de M. João Baptista Costa

 
 




Um homem contempla o céu.
E detém o seu olhar na lua
Que inunda
com um véu de nostalgia.
Já lá esteve.
No pico do universo, no pico da juventude…
Desses momentos
Restam-lhe apenas
uma tonelada de memória recorrentes
E um montinho de pedras.
 
 
Um dia não estará cá
e pergunta-se
A quem deixará as suas pedras.
Já viu que não são apreciadas por gente feliz.
Essa gente olha para as pedras,
Sente-lhes o peso e ri-se,
Dizem que ele as apanhou
No chão atulhado do seu quintal…
 
 
Ainda não sabem que, ao fim e ao cabo, no fim do dia,
cada um de nós tem que lidar com um de dois factos.
Não termos realizado os nossos sonhos…
Ou termos conseguido, sim,
e a vitória se esvair escorrendo, na nossa memória.
Porque nos lembramos sempre mais do que sonhámos,
Pois são tantos dias, tantas noites,
tantos brancos momentos
em que o sonho é o nosso amigo, o nosso amante…
E a realidade feliz é, em si mesma, volátil,
acontece e devora-se num instante…
 
 
Assim, o astronauta continua a guardar as suas pedras.
Um tesouro de não se sabe bem o quê
para alguém que careça de esperança
ou que, pura e simplesmente, já tenha compreendido tudo.
Ou, quanto mais não seja,
Para si mesmo.
Porque já é tudo tão remoto …
Diluídos pelo tempo e pela distância
Os sonhos e as certezas …
Ao menos que não haja nuvens
E o céu fique sempre claro, por favor…
 
Maria João Baptista Costa


domingo, 26 de agosto de 2012

Tarde de Verão

 
 



Tarde quente de verão!
Sopra do mar uma brisa,
Que anima tudo em redor,
E o forte calor suaviza.

Das arribas, cheias de urze,
Vê-se o areal dourado.
As ondas são tentação
Do poeta deslumbrado.

 
A mancha do mar azul
Inunda a vista de cor.
Os barcos a deslizar
Em fina mão de pintor.

 
Sob a limpidez do céu,
E num rasgo de harmonia,
Gaivotas, em revoada,
Gritam com muita alegria.

 
Maravilha é vê-las alto,
Graciosas a bailar.
Fazem parte da paisagem,
Sempre viva a palpitar.

 
Há que reter na memória
Tão grandiosa visão.
E guardar na nossa alma
Seu encanto de verão!
 
Maria da Fonseca



sexta-feira, 3 de agosto de 2012

Da minha Janela


Foto de J. Bastos Baptista



Quero cantar-vos agora
Enquanto vos 'stou a ver
Da janela do meu quarto.
Lindas flores a crescer,

Em fartos cachos lilases
A abanar co'a brisa leve,
Ornadas de verdes folhas
Mostrando harmonia breve.

O Sol que vos ilumina
Foi o que vos fez florir,
E, muito quente no v'rão,
Ides murchar a seguir.

Enquanto vos manteis belas
As borboletas voejam,
Visitam-vos os zangãos,
Negros melros vos cortejam.

Depois o vento virá
E as pétalas cairão.
Só prò ano haverá flores
Quando voltar a ser v'rão!

Maria da Fonseca