quinta-feira, 30 de maio de 2013

O Passeio de Santo António de Augusto Gil (1873 -1929)

 
 
 



Saíra Santo António do convento,
A dar o seu passeio costumado
E a decorar, num tom rezado e lento,
Um cândido sermão sobre o pecado.

Andando, andando sempre, repetia
O divino sermão piedoso e brando,
E nem notou que a tarde esmorecia,
Que vinha a noite plácida baixando…

E andando, andando, viu-se num outeiro,
Com árvores e casas espalhadas,
Que ficava distante do mosteiro
Uma légua das fartas, das puxadas.

Surpreendido por se ver tão longe,
E fraco por haver andado tanto,
Sentou-se a descansar o bom do monge,
Com a resignação de quem é santo…

O luar, um luar claríssimo nasceu.
Num raio dessa linda claridade,
O Menino Jesus baixou do céu,
Pôs-se a brincar com o capuz do frade.

Perto, uma bica de água murmurante
Juntava o seu murmúrio ao dos pinhais.
Os rouxinóis ouviam-se distante.
O luar, mais alto, iluminava mais.

De braço dado, para a fonte, vinha
Um par de noivos todo satisfeito.
Ela trazia ao ombro a cantarinha,
Ele trazia… o coração no peito.

Sem suspeitarem de que alguém os visse,
Trocaram beijos ao luar tranquilo.
O Menino, porém, ouviu e disse:
- Ó Frei António, o que foi aquilo?…

O Santo, erguendo a manga de burel
Para tapar o noivo e a namorada,
Mentiu numa voz doce como o mel:
- Não sei o que fosse. Eu cá não ouvi nada…

Uma risada límpida, sonora,
Vibrou em notas de oiro no caminho.
- Ouviste, Frei António? Ouviste agora?
- Ouvi, Senhor, ouvi. É um passarinho.

 
- Tu não estás com a cabeça boa…
Um passarinho a cantar assim!…
E o pobre Santo António de Lisboa
Calou-se embaraçado, mas por fim,

Corado como as vestes dos cardeais,
Achou esta saída redentora:
- Se o Menino Jesus pergunta mais,
…Queixo-me à sua mãe, Nossa Senhora!

Voltando-lhe a carinha contra a luz
E contra aquele amor sem casamento,
Pegou-lhe ao colo e acrescentou: - Jesus,
São horas…
E abalaram pró convento.
 
Augusto Gil

sábado, 25 de maio de 2013

Ora Chove, Ora Faz Sol

 
 


Ora chove, ora faz Sol
Nesta primavera fria,
Nem escuto o rouxinol
E esqueço que sou Maria.
 
Do Minho até aos Algarves,
Um aguaceiro fustiga
As folhas novas das arves.
Não trato a chuva de amiga.
 
O céu está bem forrado
De espessas nuvens cinzentas,
Mas breve 'stará azulado
Ao se afastarem atentas.
 
Rama molhada, brilhante,
Joga ao sabor da nortada,
O Sol a impor cambiante,
Eu quedo-me enfeitiçada...
 
E logo volta a chover,
O vento norte não cede,
Vejo as flores a sofrer,
Meu poema não sucede.
 
O inverno foi embora
E não me deixou saudade.
Mas em Maio, mesmo agora,
Pouco mudou na verdade.
 
Ora chove, ora faz Sol
Nesta primavera fria.
Cante pronto o rouxinol
Pra lembrar que sou Maria.
 
Maria da Fonseca


segunda-feira, 13 de maio de 2013

Flor de Laranjeira

 
 





A alegrar a primavera
Nasceu mais uma florinha,
Ontem ainda em botão,
Já prometes a frutinha!
 
 
De manhã logo te vi
Minha flor de laranjeira,
Miniatura que me encanta
Entre irmãs és a primeira.

 
Branca, pura, perfumada,
Será breve o teu viver,
As pétalas a cair
Logo o fruto a aparecer.

 
Outros botões a espreitar,
A prever mais floração
Junto aos macios citrinos,
Milagre da Criação.
 
 
Também há as folhas novas
Crescendo rapidamente,
São de um verde mais aberto
A rematar livremente.
 
 
E a laranjeira-mirim
Se prepara, preciosa
Jóia que Deus ofertou
Com seu Amor, radiosa.
 
Maria da Fonseca



domingo, 12 de maio de 2013

Fátima

 
 
 
 

Minha Senhora de Fátima,
Mãe do Nosso Redentor,
Cova da Iria está plena
De Fé, Esperança e Amor.

 
Na noite fria de Maio
Velas brilham aos milhares.
Tantos corações em brasa,
A devoção enche os ares.

 
São teus filhos devotados,
A quem tratas como Mãe,
Desvelada e generosa.
Tu não faltas a ninguém!

 
A pé chegam peregrinos,
Suas promessas cumprindo.
As graças lhes concedeste,
As preces suas ouvindo.

 
Rezam, cantam e agradecem
Em várias línguas, Senhora,
E ouve-se numa só voz
O que Te pedem agora.
 
 
Que os protegeis e guiais
Nos caminhos desta vida.
Salvé Rainha da Paz,
Nossa Fé seja vivida!
 
Maria da Fonseca


segunda-feira, 6 de maio de 2013

A Magia da Lua Cheia

 
 
 
 
Deixa ver a lua cheia
Nosso quarto iluminar,
Linda, brilhante, encandeia,
'Stá no céu para encantar.

 
Não feches o cortinado
Para a poder contemplar
Como um balão projetado
Num profundo azul sem par.

 
Enquanto vai a subir
Olho-a com todo o carinho,
Quero reter seu fulgir
E fixar o seu caminho.

 
Até que a deixo de ver,
Foge por trás da capela,
O luar a esvanecer...
Já não entra pela janela.

 
Amanhã virá mais tarde,
Seu relógio não tem hora,
Mas pedi-lhe que me aguarde
Antes de ter ido embora.

 
Já não estará tão perfeita,
Uma fímbria faltará,
A decrescer ela estreita
Mas em breve crescerá.

 
Lua cheia plenamente
Virá com sua magia.
Rever-te-ei novamente
Se Deus der essa alegria.
 
Maria da Fonseca