quinta-feira, 30 de setembro de 2010

No Fim de Setembro


 O último dia do mês
De ameno V'rão se apresenta.
A galopante das Bolsas
Nosso Deus não apoquenta.

Sua Bondade Infinita
Nos dá tudo quanto temos.
Aprendei a partilhar
Tudo aquilo que queremos.

Todo o bem que possuímos
O Senhor nos emprestou.
‘Stá em tudo quanto vemos
A beleza que criou.

O Sol brilha encantador.
O ar puro e transparente
Desenha o feitio das coisas,
Sem humidade aparente.

Árvores, flores e folhas
Sentem-se bem, radiosas
A enfeitar o meu jardim
Com muito amor, piedosas.

Maria da Fonseca

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Gaivota da Praia


No Verão não te revi,
Da Rocha me desviei.
Saudade tenho eu de ti,
Que te vi, até pensei.

Linda gaivota à aventura,
Que encanto é o teu voar.
Sobre a areia andas segura
E no mar a balouçar.

Executas teu bailado
Bem alto – que maravilha!
Surges em vôo picado
Se descobres que há partilha.

Em bando segues os barcos
Com ansiosas irmãs,
Que no ar desenham arcos,
A alvoroçar as manhãs.

No cimo da rocha ficas
Argêntea, pura, real,
E ao sítio tu te dedicas,
Se não houver temporal.

Este poema te devo,
Ave linda de encantar.
Tu és todo o meu enlevo,
Junto à praia, ao pé do mar.

Mas se Deus o permitir,
Prò ano aí estarei.
E uma dúvida a surgir,
- Se s’rá outra que verei!

Maria da Fonseca

terça-feira, 28 de setembro de 2010

O Perfume da Tília


Tenho uma tília adorável
Bem diante da janela,
Sentindo odor agradável
Se chego mais perto dela.

Plena de flores discretas
Pequeninas, rendilhadas,
Com o Sol luzem abertas,
Sedutoras e douradas.

A sua sombra aproveito
Em dias de mais calor,
O Senhor sempre prefeito
Fê-la crescer com vigor.

Mas não estão todas assim
Tão belas e tão frondosas,
Há outras no meu jardim
Vergadas e desditosas.

A brisa leva o perfume,
Com ela o meu pensamento,
Saudade sem um queixume,
Outra tília, outro vento...

Acalma-se a minha mente
Face ao suave prazer,
Da linda árvore presente,
Um raminho eu colher!

Maria da Fonseca

domingo, 26 de setembro de 2010

Sol Poente


 Subia os degraus do Forte, do Forte de Santa Catarina. Olhando para o lado esquerdo vi um enorme balão de fogo que procurava esconder-se atrás do casario da cidade. Recuei descendo dois degraus para poder admirar o lindo pôr-do-sol no mar. O balão rotundo, cheio dum amarelo avermelhado, ia pousar no mar, um mar brilhante que encandeava, apesar dos óculos escuros. Era tal a beleza que tinha dificuldade em desviar os olhos! Quando os desviei já o Sol tinha começado a mergulhar no horizonte e a sombra suave e persistente a envolver o mar, a praia, as casas… Um sentimento de profunda quietude envolvia-me também.
- Vamos ficar aqui? – Perguntou o meu neto, que subiu e desceu a escada não sei quantas vezes.
A magia do momento terminou.
- Não Tiago, vamos embora.

Esta visão desde sempre me tem encantado. Já admirava este pôr-do-sol quando as minhas filhas eram crianças.
Em Setembro íamos para o Algarve. Era o tempo das férias, da liberdade sem horários.
À tardinha descíamos invariavelmente a escadaria de pedra tosca do Forte.
Parávamos no primeiro miradouro ainda quente. Respirávamos a brisa que se levantava do belo mar, azul, imenso, poderoso – momentos inesquecíveis!
O pontão com o seu farol era um apelo!
Depois, o segundo lance de escadas levava-nos para o lado do Arade, que se mostrava manso, com uma ligeira ondulação na água, provocada pelos pequenos barcos a deslizar elegantes e coloridos.
Descendo os restantes degraus atingíamos o cais com o pontão diante de nós e no final o farol. Nem olhávamos para a praia. Seguíamos pontão fora com as ondas a bater dum e doutro lado, elevando-se a água feita espuma a inundar o quebra-mar. A sensação das gotículas salgadas nas faces fazia-nos acelerar o passo.
Assim chegávamos ao farol!
Aí, já só tínhamos o mar diante… O mesmo Atlântico que empolgou o Infante!

Maria da Fonseca

sábado, 25 de setembro de 2010

Da Varanda da Rocha



Eu sei que aí estás, meu mar
Apesar de eu não te ver.
Sinto o relento da noite
E o aroma do refecer.

Tantas luzinhas ao longe
Das traineiras acordadas,
Como as estrelas do céu,
Brilham puras, sossegadas.

A demarcar o Arade
Os três faróis que embelezam.
Ora o verde, ora o vermelho,
Ora o prata se revezam.

E do meu ponto de mira
Segue a faina, noite fora.
Há quantos anos me intriga
A hora a que vão embora!

E meu mar perde as estrelas,
Mas no céu ainda brilham.
Sei que aí continuas.
Teus feitiços maravilham!

Maria da Fonseca

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Rosas de Setembro


Se as rosas que vejo além
Nasceram na Primavera
Estariam a enganar-te
Porque é o Outono que impera.

E a circundar os quintais
Há buganvílias formosas
Que em breve esmorecerão
Nas revoadas ventosas.

O Sol nasce a bocejar
Menos calor ele dá
Mas as roseiras florescem
E a relva mais verde está.

Conta já com as folhas secas
Caídas pelo caminho
E olha para as laranjeiras
A encantar-nos seu alinho.

Os aloendros salpicam
De branco e rosa a cidade.
Esta nova floração
Mitiga a minha saudade.

A Primavera partiu.
Agora é o Outono em flor.
Também se evolou meu viço
Mas não perdi teu amor.

Maria da Fonseca


quinta-feira, 23 de setembro de 2010

A Flor que te Ofereci



 Colher linda flor que te ofereci,
Da minha alma, foi sofrida vontade.
Of'recer- te essa flor que então colhi,
Foi revelar-te, assim, minha ansiedade.

Tão grande é meu amor, tido por ti,
Que induziu a colher a flor saudade,
Não fora esse remorso que sofri,
De abreviar-lhe a vida, na verdade.

As lágrimas que choro, ao abraçar-te
Resultam da emoção e da alegria,
Que sinto nos teus braços ao beijar-te.

E a flor saudosa, no final do dia,
Esconde suas pétalas com arte,
Deixando-nos vogar na fantasia...

Maria da Fonseca

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Buganvílias


Estes olhos encantais
Com a vossa formosura,
Belas, gentis buganvílias
Em flor, cheias de ternura.


As lilases se entrelaçam
No murinho do quintal,
As vermelhas mais ao longe
São vistosas, sem igual!


A chuva que ontem caiu
Excedeu-se no seu zelo
Neste final do Verão,
Apesar do nosso apelo.


Já tantas florzinhas rolam
Ao sabor da leve aragem
Dando mais cor ao caminho,
Modificando a paisagem.


Minhas lindas companheiras
A estação está a mudar.
Não é por não terdes flor
Que eu vos deixarei de amar!

Maria da Fonseca


terça-feira, 21 de setembro de 2010

Alvorada no Estoril


 

Surge o dia fascinante
Depois da noite dormida,
O Sol redondo, brilhante,
Alvorada bem nascida.

Corro o ‘spesso cortinado
Pra ‘sconder a luz do Sol.
Quero ficar a teu lado
Té cantar o rouxinol.

Saio depois de mansinho
Não vou ser eu a acordar-te.
Deixo-te o meu carinho
E a coberta a aconchegar-te.

Pela nesga da cortina
Um raio de Sol espreita,
O nosso ninho ilumina,
O meu coração deleita.

Lá fora o Parque alegrou
Co’a beleza da alvorada.
Nosso Senhor nos brindou
Ao enviá-la dourada.

Maria da Fonseca

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Evocar Fernando Pessoa



“A criança que fui chora na estrada”*.
E sucedeu assim com todos nós.
Deixarmos uma infância abençoada
Seguindo a vida em marcha tão veloz!

Mas Pessoa confessa não ser nada.
Pessoa, que elevou a sua voz
A exortar Portugal, sua alvorada,
Lembrando os feitos de nossos Avós!

O seu soneto, eu volto a evocar
P’la ânsia que tinha, em si, de encontrar
Um pouco do que foi e já não era.

Desejo de ao passado retornar,
A todos nós pretendeu ofertar,
Por não o aceitar como quimera

Maria da Fonseca

*inspirado no soneto de Fernando Pessoa que
apresento a seguir



A criança que fui chora na estrada.
Deixei-a ali quando vim ser quem sou;
Mas hoje, vendo que o que sou é nada,
Quero ir buscar quem fui onde ficou.

Ah, como hei-de encontrá-lo? Quem errou
A vinda tem a regressão errada.
Já não sei de onde vim nem onde estou.
De o não saber, minha alma está parada.

Se ao menos atingir neste lugar
Um alto monte, de onde possa enfim
O que esqueci, olhando-o, relembrar,

Na ausência, ao menos, saberei de mim,
E ao ver-me, tal qual fui ao longe, achar
Em mim um pouco de quando era assim.

Fernando Pessoa

domingo, 19 de setembro de 2010

Horizonte

                                                     Praia da Rocha

Se a linha do mar ao longe
É arco de circunferência,
Nunca pôde a linha recta
Ser a minha referência!

Um horizonte perfeito,
Sob um céu azul e claro,
Mostra como a mão de Deus
Se revela em gesto raro.

Uma beleza diante
Nitidez incomparável!
O que vejo, o que sinto
Sempre foi inolvidável.

É tal a grande evidência
Dessa curva bem querida,
Traçada por um compasso
De ponta seca escondida.

Mar de azul forte pintado,
Circunscrito me pareces.
Rezo à noitinha calada
Pra que amanhã tu regresses.

Maria da Fonseca


sábado, 18 de setembro de 2010

Sentires de Verão


                                      
                           

          Fim de tarde,ouvindo-te João,           
Teus doces dizeres a recordar
Ares de Itália, música a tocar
Em linda esplanada de Verão.

Suavizas assim meu coração,
Da notícia chegada a magoar,
Com brandas palavras a mitigar
Minha lágrima que desliza em vão.

A morna aragem do entardecer,
Ambiente de prendas preciosas,
Dá-me outros sentires a conhecer.

Buscar novas paragens radiosas
Onde só nós dois iremos viver
O nosso amor sem sombras receosas.

Maria da Fonseca






 

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

4º Aniversário da Academia Virtual Sala dos Poetas e Escritores - AVSPE




Parabéns à Academia
Onde Amigos todos somos
A partilhar a Poesia,
Bem maior de que dispomos.

Arte linda sem fronteiras
De ideias puras, amadas,
Em estrofes verdadeiras,
Esplêndidas, bem cuidadas.

Efigênia, conseguiste
Atraí-las com amor,
E amá-las, intuíste,
Como a delicada flor.

Generoso coração,
A Academia criaste
Com teu saber e paixão
E os autores acarinhaste.

Agradada eu me sinto
Por grande amizade ter,
O trato sempre distinto
Alegria em meu viver.

Quatro anos são passados
De vária e linda escrita,
Textos sempre apreciados,
Comentados na visita.

Que continue o progresso
Desta nobre Academia
Com valimento e sucesso
Na Arte que prestigia.

Maria da Fonseca

domingo, 12 de setembro de 2010

Dilema



                                   A alternativa 'scolher
                                   O coração confessar              
 A angústia ao entardecer
Para o amanhã mudar.


Seguir, ficar, intuir
 O que é felicidade.
Se em busca dela partir,
Se aguardar na ansiedade.


A dúvida é premente.
O dilema a acontecer,
A impor-se veemente
Tão próprio do humano ser.


Doloroso o resolver
Sendo a mutação doída.
Deixar o tempo correr
Não parece a preferida.


Persiste o meu embaraço
Pró destino desviar.
Espera de um terno abraço
Que me possa consolar.


Até onde o meu caminho
Depende do meu querer...
Chora o coração baixinho
Ó meu Deus, o que escolher?

Maria da Fonseca

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Soneto inspirado no poema "OS DEGRAUS" de MÁRIO QUINTANA



EM BUSCA DA FELICIDADE

 
" Um sonho louco é este nosso mundo"
Onde queremos viver e sonhar.
Felicidade é algo mais profundo
Que na vida sonhamos alcançar.

O espírito procura vagabundo,
Busca ansioso tudo divisar
Do alto pico até ao vale fundo,
Como chama viva em pedra de altar.

Mas se o mistério está na nossa vida,
A insistente procura será vã
Como ao vento suster folha caída,
Como evitar que nasça o amanhã.

E a F'licidade só s'rá atingida
Na convicção da nossa Fé Cristã.

Maria da Fonseca






OS DEGRAUS


Não desças os degraus do sonho
Para não despertar os monstros.
Não subas aos sótãos - onde
Os deuses, por trás das suas máscaras,
Ocultam o próprio enigma.
Não desças, não subas, fica.
O mistério está é na tua vida!
E é um sonho louco este nosso mundo...


Mário Quintana

sábado, 4 de setembro de 2010

O poema da autora encontra-se no Livro de Visitas do Museu do Vulcão dos Capelinhos no Faial - Açores



A ÁGUA DO MAR EXPLODIU!

Nasceu um novo vulcão
Neste mundo, nossa era,
Fenómeno de erupção
A quando menos se espera.

Foi na Ilha do Faial
A um quilómetro da costa,
Nesse mar especial
Em que a sua gente aposta.

A terra andava a tremer
Havia dias ou meses…
Nada o fazia prever
Pois acontecia às vezes.

Há mais de cinquenta anos
Que um ronco no mar se ouviu
E perante olhos humanos
A água do mar explodiu!

Assustou os que assistiram
E os que de longe souberam
Que as lavas emergiram
Onde alguns antes ‘stiveram.

Do mar avançou prá terra
A dilatar nossa Ilha
E casas, prados, soterra,
Co’a destreza da armadilha.

De toda a parte chegaram
Curiosos cientistas
Que o fenómeno estudaram,
Suas fases imprevistas.

O vulcão dos Capelinhos,
No nosso tempo chegado,
Abriu assim os caminhos
Pra compreender o passado.

Irrupção vinda do mar
Treze meses assombrou
Com surpresas de pasmar,
Findos os quais sossegou.

Maria da Fonseca