quarta-feira, 28 de março de 2012

Louvor à Primavera




Não sou só eu que me alegro
Co’o chegar da Primavera,
Deixar partir o rigor
Do Inverno que desespera.


Por todo o lado as florzinhas
De várias ‘spécies e cores
Se erguem lindas, perfumadas,
E as aves cantam louvores.


A alegre brisa nervosa
Agita as folhas recentes
Já a enfeitarem os ramos
Plenos de luz e contentes.


A tarde a cair rosada
Anuncia o amanhã,
Ainda mais belo que o hoje
Logo ao nascer da manhã.


A Natureza pujante
Se exalta em cada ser vivo,
Não é só a mim que agrada
O seu aspecto festivo.

  
Todos nós agradecemos
O Sol cortar o Equador
Neste manso mês de Março,
Graças Vos dou, Meu Senhor.

Maria da Fonseca

domingo, 25 de março de 2012

Autopsicografia de Fernando Pessoa


Fernando Pessoa
(1888-1935)



AUTOPSICOGRAFIA


O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.


E os que lêem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.


E assim nas calhas de roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama o coração.

Fernando Pessoa

terça-feira, 20 de março de 2012

Reviver a Primavera




Ainda a sebe não tem rosas,
Já está o abrunheiro em flor.
O melro corre na relva,
A perseguir seu amor.

É mais uma Primavera
Que chega pra me encantar.
Eu, que poeta não sou,
Tento também versejar.

Também sinto, também vibro
Co’o movimento do Sol
Ou da Terra, na verdade,
E ao cantar do rouxinol.

 
Este azul do céu me assombra
Em qualquer hora do dia,
Enquanto o verde viceja
E meus olhos extasia.

A luz me alegra, e ilumina
O meu jardim a florir,
Enquanto aragem suave
As folhas põe a bulir.

A rezar ao Criador
Vivo eterna a agradecer,
Grata p’la missão divina
Que entregou a cada ser. 

Maria da Fonseca


domingo, 18 de março de 2012

A Bela Magnólia

foto cedida por Maria João Costa


Lindo presente me deste!
A magnólia já florida
Rescende do lado leste,
De cor-de-rosa vestida.

Alegra meu coração
Co'a beleza que me oferta,
Encantadora visão
Que o meu poetar desperta.

Floresceram os rebentos
Ao chegar do Fevereiro,
Depois foram meus alentos
Para a poder ver primeiro.

De flores maravilhosas,
Difíceis de descrever,
Com pétalas preciosas,
Toda a árvore a envolver.

Do que é belo me afastar,
É mesmo o que mais me custa,
Quero reter com o olhar
Esta imagem augusta.

Guardá-la bem na memória
Grata p'la recordação
Da Natureza flórea,
Que gera minha emoção!

Maria da Fonseca


sábado, 10 de março de 2012

Noite sem Lua




A noite tão linda e escura
Invade toda a paisagem.
A Lua não está presente.
Corre tépida uma aragem.
O mar grande continua,
Mas agora não o vejo,
Está fundido com o céu.
A praia sente o seu beijo!

As traineiras 'stão pousadas
Nesse mar de imensidão.
Suas candeias acesas,
São astros na escuridão.

Quadro vivo que eu revejo
Sempre com muita ternura.
Lançam as redes à noite
- É tradição que perdura.

E, se, alta madrugada,
Pra ver a faina, eu espreitar,
As luzes já lá não estão.
Ficou tão negro o meu mar!

Maria da Fonseca