quinta-feira, 31 de março de 2011

À Primavera


 
Já chegaste, Primavera?!
Alegras-me o coração.
Borboletas voejando,
Pássaros em comunhão.


O que me fazes sentir
Eu não sei bem descrever.
Mais um ano ter passado,
E eu, viva, para te ver!


A Luz assim me comove,
Tudo a nascer em redor.
Flores brancas e amarelas
Aparecem a compor.


Andam uns atrás dos outros,
Os pombinhos a arrulharem.
Coloridas, as cabeças,
Sempre, sempre a menearem.


Como bolinhas de pêlo,
Os filhos estão no pombal.
- Cuidado, não têm penas,
Não se cheguem ao beiral.


Ó Sol benfazejo aquece.
O frio saia sem demora.
Senhor Deus volta a criar,
Manda o Inverno ir embora!

Maria da Fonseca

segunda-feira, 28 de março de 2011

Soneto de Luís de Camões

Luís de Camões
(1524-1580)


 
SONETO

Sete anos de pastor Jacó servia
Labão, pai de Raquel, serrana bela:
Mas não servia o pai, servia a ela,
Que a ela só por prémio pretendia.


Os dias na esperança de um só dia
Passava, contentando-se com vê-la:
Porém o pai, usando de cautela,
Em lugar de Raquel lhe deu a Lia.


Vendo o triste pastor que com enganos
Assi lhe era negada a sua pastora,
Como se não a tivera merecida,


Começou a servir outros sete anos,
Dizendo: mais servira, se não fôra
Para tão longo amor tão curta a vida.

Luís de Camões

segunda-feira, 21 de março de 2011

Chegada da Primavera



Receber a Primavera
Com carinho e alegria
Encher a casa de flores
Escrever uma poesia


À janela estar contente
Olhar o céu e o jardim
Escutar os passarinhos
E adorar que seja assim


Abrir a porta com gosto
E sair com o meu amor
Levar um lenço ao pescoço
E no cabelo uma flor


Observar a natureza
Quais as árvores floridas?
E as que ainda não têm folha
Parecem adormecidas!


Aspirar o ar mais leve
E o aroma dos citrinos
Da relva cortada há pouco
Em farrapos pequeninos


E andar assim de mão dada
Enquanto o Sol nos aquece
A aproveitar a chegada
Da estação que acontece


Louvar ao Senhor meu Deus
Pelo dia abençoado
E regressar ao meu lar
Co'o coração amimado!
 

Maria da Fonseca

sábado, 19 de março de 2011

No Dia do Pai


Pai das minhas três Meninas!
Elas também me agradecem
Por contigo ter casado,
Pelo amor que te merecem.


Com amor foram geradas,
Com desvelo recebidas.
Não há Pai mais amorável
Prás suas filhas queridas.


Hoje é o teu dia, Amor,
E o de S. José, também.
Todos os outros do ano
Sejam bons dias. Amém.


Todo o amor te dedicar
É esse o nosso desejo.
Ao Marido e Pai amigo,
Um mui carinhoso beijo.

Maria da Fonseca


quinta-feira, 17 de março de 2011

Promessa de Primavera



Essa linda magnólia que me encanta
Em todos os invernos, a florir…
Da Criação, sinal de graça tanta,
A nova Primavera a sugerir!


Com as flores rosadas acalanta
E seu doce perfume a espargir!
Mas não tarda, a nortada se levanta
E a forte chuva ainda vai cair.


Dia a dia, eu vejo-a perder
A beleza efémera, saudosa,
Que tão breve se irá esvaecer,


Quando soltas, as pétalas voarem,
E então a Primavera radiosa
Virá, para os Poetas a cantarem!

Maria da Fonseca

segunda-feira, 14 de março de 2011

O Grito


Esse grito prolongar,
Desejo, cheia de ardor!
Gritar a plenos pulmões,
Empenhar o meu vigor!



Pelos vales e montanhas,
O grito ressoará!
Anseio de corações,
O vento o propagará…


E quando não puder mais,
Qualquer irmão, outro ser
Continuará nosso grito
Até a Paz suceder!


Entreguemos nosso grito
Às crianças a nascer.
Tornar-se-á imortal
Pois nunca irá perecer!


E o grito perdurará,
Símbolo da humanidade.
São nossos rogos a Deus
Pela Paz, pela Verdade.

Maria da Fonseca

quarta-feira, 9 de março de 2011

O Alabardeiro de Conde de Sabugosa






O ALABARDEIRO


Se eu lhe fizesse a corte, ou se eu agora
Lhe quisesse dizer, minha Senhora,
Um dito, um galanteio,
Não lhe chamava pérola mimosa
Nem lhe faria versos cor de rosa,
Em namorado enleio;
Nem, tampouco, Senhora,
A comparava ao branco lírio,
Ao jasmim de Java,
Aos raios do luar,
Ou à flor virginal da laranjeira
Que, nas manhãs de Primavera, esteira
As ruas do pomar.
Não lhe exaltava os olhos orientais,
As delicadas mãos esculturais,
O malicioso pé,
Nem iria roubar cantos, belezas
Às sensuais , românticas marquesas
dos versos de Musset.
Repetia-lhe, apenas, neste instante,
O lisonjeiro dito, arqui-galante,
Do velho alabardeiro,
Que uma vez...
O melhor é começar...
Enfim, ouvido atento,
Eu vou contar a história por inteiro.
É no museu,
Avultam as brancuras
De formosas, antigas esculturas
Nos altos pedestais.
Chove do tecto a luz suave e morna
Que, num banho macio, lhes contorna
As formas geniais.
Deslumbram, nas extensas galerias,
As plásticas, reais anatomias
Da Grécia criadora.
Aqui vê-se, num êxtase adorável,
A beleza dogmática, imutável,
Da Vénus vencedora.
Veste-lhe as formas túmidas, redondas,
Caindo-lhe, rodoso, em largas ondas
O manto desprendido.
E nesse corpo musical, severo,
Brilha um poema helénico de Homero
Eternamente lido.
Além, uma Diana caçadora
A túnica arregaça, encantadora,
Num infantil meneio.
Adiante Baco ao peito de Sileno
E de Palas um vulto alvo e sereno
Com a égide no seio.
Olhando em volta a multidão divina,
Olímpica, marmórea, alabastrina,
A multidão pagã,
Parece-nos que, assim eternamente,
Aqueles deuses ouvem docemente
Um cântico de Pã.
Deixando a galeria, na saída,
Onde se une a escada bipartida
Num vasto patamar
Destaca-se, aprumado, um velho guarda
Empunhando, tranquilo, uma alabarda
Grande, demi-lunar.
Tem o soberbo aspecto
Das figuras da meia idade,
As velhas armaduras
Deviam-lhe servir.
Barba enovelada, a tez rugosa,
Uma indiferença altiva e desdenhosa,
Nostálgico sorrir.
Pois um dia, contaram-me, que vendo
Uma linda mulher que ia descendo
O velho estremeceu.
E, prendendo-a no largo peristilo:
- Não vos deixo sair Vénus de Milo,
Fugir deste museu.
Acaba aqui a história.
Se eu agora
Lhe quisesse dizer, minha Senhora,
Um dito lisonjeiro,
Repetirei apenas, neste instante,
Que lhe diria o mesmo que o galante
E velho alabardeiro.

Conde de Sabugosa

domingo, 6 de março de 2011

Depois da Chuva




Depois desta chuva, amor,
Eu quero ver minhas flores,
E os pássaros meus vizinhos,
Se sentiram meus temores.



A magnólia 'stá florida
Cheia de gotas pousadas
Nas pétalas cor de rosa,
Com outras no chão 'spalhadas.



Deslumbra pois quem a vê
No recanto do jardim,
Preciosa, encantadora,
Gostamos de a ver assim.



Outras flores que eu julguei
Desfeitas p´lo vendaval
Erguem-se lindas, louvando
A chuva essencial.



E já o melro se afoita
Na relva verde, lavada,
A procurar o sustento
Picando a terra molhada.



E o Sol a romper as nuvens
A ajudar na Criação.
Vamos embora, amor,
Deus não os esqueceu, não!

Maria da Fonseca



sexta-feira, 4 de março de 2011

Respeitai a Mulher





É a mulher maltratada
Por todo esse mundo além,
No trabalho, na família,
Até se esquecem que é mãe!



Que traz no ventre os seus filhos
Que s’rão homens amanhã
E possuirão a Terra.
Mas que prepotência vã!



Com obrigação distinta,
Menina, esposa e mãe,
Não deve ser violentada
Por humana ser também.



Atendei aos seus direitos,
Seu poder de afirmação,
Ajudai-a com estima
A cumprir sua missão.



E o mundo será melhor
Se a mulher for respeitada.
Deixai de a menosprezar.
De Deus, filha abençoada!

Maria da Fonseca