segunda-feira, 28 de maio de 2012

Maio Volúvel


foto de J. Bastos Baptista


Por entre as nuvens pesadas
Raiou o Sol e a alegria
Brilharam folhas molhadas
Pela chuva que caía.

 
Casal de melros bulia
Por um niquito de pão
Pelos vistos discutia
A saltitar pelo chão.

O céu azul alternava
Com as nuvens bem cinzentas
Conforme o vento soprava
Mexendo as folhas sedentas.

O arco-íris não vi
Decerto estaria lindo
Mas a chuva que senti
Fez com que eu fosse seguindo.

E os meus olhos seduzidos
Fixaram-se noutros sóis
Nas árvores refletidos
Como em espadas de heróis.

Meu Maio vai-se vestindo
De nova e verde folhagem
Diletas plantas florindo
A transformar a paisagem.

Maria da Fonseca


sábado, 19 de maio de 2012

Amarílis Rosado


foto de J. Bastos Baptista



Pra cá vieste em botão
Junto com os teus irmãos,
Curiosa eu espreitava
Esta prenda pròs cristãos.

Foste o último a abrir
Mas o mais belo também,
Natureza te tratou
Com seu carinho de mãe.

Gosto de te olhar assim
Q'rido amarílis rosado,
Apreciar teu encanto;
Sinto-me bem a teu lado.

Brilham com o Sol da tarde
Tuas pétalas sedosas,
Resplendentes, realçando
Gotículas preciosas.

Fazem lembrar lindas sedas
Dos vestidos das atrizes
Em suas festas, radiosas,
Com nuances e matizes.


Um tecedor inspirado
Te admirou de certeza,
E sonhou, nos seus tecidos,
Copiar tua beleza.

Formosura imaculada,
Obra de Deus Criador,
Chegaste na primavera
Com o Sol prometedor!

Maria da Fonseca


segunda-feira, 14 de maio de 2012

Em Fátima




Ai que saudade, Senhora,
De estar onde Tu estiveste.
Ajoelhar na Capela
E rezar como quiseste,
Acendendo a minha vela.

Nossa Senhora de Fátima,
Eu Te quero como filha,
Como Mãe me tens tratado.
Orienta a minha trilha
E afasta-me do pecado.

Saudade de quem venera
E se entregando, confia
Que sempre está protegida,
Quer de noite quer de dia,
Ao longo de toda a vida.

Tanto desejo viver
Contigo no coração!
Senhora do meu sentir,
Tende de mim compaixão,
Abençoa meu porvir.

Creio ir ao Teu encontro
Na minha hora derradeira.
Ver-Te no céu resplendente
Como outrora na azinheira
Te mostraste, ó Mãe clemente!

Maria da Fonseca


sábado, 12 de maio de 2012

A Minha Mãe



Ao observar-me no espelho
Vejo os teus traços, Mãezinha,
Ouço ainda o teu conselho,
Tua alma junto à minha.

Da minha face, o oval
Lembra-me teu rosto lindo,
Teu sorriso maternal
Os teus olhos colorindo.

Enquanto os meus são castanhos,
Os teus eram ‘sverdeados,
Mas meu cabelo que apanho
Teve cachos ondeados.

De ti herdei as feições
Que recordo tão saudosa.
Sei que viveste aflições
E mas poupaste, ansiosa.

Ao teu coração bondoso
Presto singela homenagem.
Doou-me amor precioso
E deu-me sempre coragem.

Maria da Fonseca


sábado, 5 de maio de 2012

Ternura da Minha Infância




Minha memória da infância
‘Stá longe, quase apagada
Neste cantinho do peito
Pela saudade velada.

Meu Pai, minha Mãe, quem dera
Lembrar-me dos seus carinhos!
Nesse tempo a madressilva
Perfumava os meus caminhos.

Da casa onde nós morámos,
Bem defronte da estação,
Via o comboio chegar
E aquecer meu coração.

Era meu Pai regressando
De volta do seu emprego,
Cansado de trabalhar
E ansioso por sossego.

Eu sempre lhe abria a porta
Pra o receber com meu beijo,
Ele a sorrir se curvava
Pra eu cumprir meu desejo.

E a minha Mãe adorada
Revia-se na ternura
Desse momento diário,
Seu momento de ventura!

Maria da Fonseca


terça-feira, 1 de maio de 2012

A ECONOMIA NO MEU LAR



Meus Amigos,

Não sei se isto se passou em tempo de crise ou não, mas de acordo com o que vos conto, podereis fazer o vosso julgamento.

Éramos seis pessoas na nossa casa: o meu marido e eu, as nossas três filhas e a empregada.

Nós trabalhávamos os dois fora e as meninas estavam a estudar.

A gestão dos nossos proventos era feita de uma forma muito simples, utilizando o que nós chamávamos o método dos envelopes, o qual vos passo a descrever.

O meu marido e eu, nos dias 30 de cada mês, sentávamo-nos à secretária do escritório para fazer a distribuição por envelopes da quantia que tínhamos recebido no emprego, de acordo com a previsão das despesas mensais. Este sistema foi usado durante vários anos com ótimos resultados. Partíamos do princípio de que, uma vez despendida a quantia dum envelope naquilo para que estava reservada, não podíamos retirar dinheiro de outro qualquer dos envelopes cujo conteúdo se destinava a cumprir outra despesa.

Em primeiro lugar juntávamos o dinheiro dos nossos vencimentos, tomando o meu marido nota na agenda do total recebido. A seguir fazia-se a distribuição pelos envelopes, na parte da frente dos quais escrevíamos, além da quantia inclusa, o fim a que se destinava; a seguir fechavam-se os envelopes, e o meu marido voltava a registar na sua agenda como fora feita a distribuição: para os "gastos da casa" -x, para mim-y......Eu, ao juntar o meu ordenado ao do meu marido, sentia-me a contribuir igualmente para as despesas da casa e, sempre mais à vontade para fazer qualquer compra que considerasse necessária. Mas este envelope com o meu nome e o registo do dinheiro que continha era para os meus gastos pessoais. Não podem calcular as manobras que fazia com ele! Daí saíam presentes, roupas para mim e para as minhas filhas e uma diversidade de pequenas coisas que, nem sempre sendo essenciais, amenizavam o meu dia a dia.

E continuava o registo dos envelopes: "gasolina", "quotas da associação", "médicos e remédios", "despesas escolares", "prestações" ( se as havia ) "impostos" e "diversos". Quando sobrava algum dinheiro metia-se num envelope e escrevia-se "banco" e o meu marido dizia que aquele era para guardar.

Nos dias 1 do mês seguinte começávamos imediatamente a fazer os pagamentos com o dinheiro do envelope respetivo. O dos "gastos da casa" estava reservado aos pagamentos da empregada, do condomínio, da eletricidade, do gás, da água, compras na mercearia, no talho, etc., etc..

Mas, se na maioria dos meses, eu governava a casa com a verba que o meu marido me dava, sem problema de maior - não me considero excecional em gestão, mas procuro fazer o possível - contudo havia dois meses do ano em que me sentia muito embaraçada desde o início do mês, porque sabia que o dinheiro me iria faltar; eram os meses de Outubro e de Dezembro.

As minhas filhas fazem anos em Outubro, a mais velha e a mais nova no dia 15 e a do meio no dia 29. Acontecia-me que nunca conseguia festejar igualmente aqueles dois dias, por falta de verba.

Por outro lado era o mês do início das aulas e também do outono; era necessário comprar os livros de estudo e apetrechos escolares e roupa de inverno para as nossas filhas que ainda estavam em idade de crescimento. Às vezes, ainda havia possibilidade de a mais nova usar algum casaco ou gabardine de uma das irmãs, mas ainda assim era difícil. Aproveitei muitas vezes dar-lhes roupa como presente de aniversário. E quanto às suas festas, durante vários anos comemorávamos os aniversários das três garotas no dia 15 com uma festa para toda a família e amigos. Procurávamos compensar com alegria, gentileza e grande amizade o embaraço dos convidados, ao terem de se apresentar com três presentes.

Como podem calcular, no dia seguinte, 16 de Outubro, quando tentava fazer as contas, concluía inevitavelmente que tinha gasto mais do que tinha previsto. Daí em diante começava o recurso a pastéis e a empadões com recheio de carne, frango ou peixe,e, algumas vezes, ao envelope com o meu nome - era a exceção para confirmar a regra! Como me costumavam pagar no dia 26, pensava que a aflição duraria dez dias e, passado esse período, poderia retirar algum dinheiro que seria descontado da mesada de Novembro.

No dia 29 de Outubro, aniversário da minha filha do meio, que já tinha tido a sua festinha com a das suas irmãs no dia 15 anterior, levava as três com algumas amiguinhas ao cinema ou ao Jardim Zoológico ou a qualquer outra diversão, procurando não agravar demasiado o desequilíbrio já atingido.

Em Dezembro o problema era mais fácil, porque os dois recebíamos o 13º mês. Mas quantos desejos para realizar! A bicicleta, a máquina de escrever e a máquina de calcular para as filhas! O toca-discos para o marido! E, eu própria, havia meses que sonhava em completar a decoração do nosso "living" com um móvel de módulos! E a ceia de Natal com a família em que cada um recebia um presente!

Mas não só a existência de dinheiro e de perícia na arte de governar a casa são suficientes num lar para resolver todos os seus problemas monetários! São também necessárias, a boa vontade e a compreensão da parte de cada um dos componentes da família - e realmente essas nunca me faltaram. E mais, próximo das férias grandes, tínhamos a possibilidade de fazer uma viagem surpresa, o que sempre dava muita satisfação a toda a família.


Este método dos envelopes, assim descrito, mereceu um prémio de uma empresa internacional de cosméticos no ano de 1975, no Estado do Rio, Brasil.

Maria da Fonseca