segunda-feira, 28 de outubro de 2013

Todos Irmãos

 
 
 

O pequenito chegara,
Noite alta, luz além.
Chegara pobre, e dormindo
Ao colo de sua mãe.
 
 
Contou ela sua vida
Em busca do pai perdido,
À boa mãe de família,
Que os tinha recolhido.
 
 
Já tinha mais alguns filhos
Daquele homem que ela amava.
Mas vê-lo sempre partir,
Era o que a não conformava.

 
Pegara assim no bebé,
E saíra ao acaso,
Na direcção que pensara
Ser solução prò seu caso.

 
Agasalho para o filho,
A mãe negra lhe of’receu,
" Ficará co’a minha gente
No ninho que Deus me deu,

 
Enquanto você irá
Buscar o pai desavindo,
Se souber onde ele está,
Caso não tenha já vindo".
 
 
Depois de beijar o filho,
Manhã cedo, olhar molhado,
Mãe branca partiu à pressa,
Coração bem apertado.

 
O bebé ali ficou,
Enlevo da petizada,
E passou a meninice
Nessa casa abençoada.

 
Sua mãe não regressou,
Mas o Edson não sabia,
Porque mãe, só tinha uma,
E outra, ele não conhecia.
 
 
Um dia, chegou co'a mãe.
Era um rapaz aprumado,
De nove anos muito vivos,
Afável e comportado.
 
 
Mais tarde foi, que me disse,
Ter a tristeza presente.
Todos na família, escuros,
Só ele ser o dif’rente.
 
Não gostava de ser branco,
Não par’cia natural.
Era seu maior desejo,
Aos seus irmãos, ser igual.
 
Maria da Fonseca


3 comentários:

  1. Olá, Maria Fonseca!

    Diria que esta é uma história virada do avesso, em que ao contrário do costume o menino branco se sentiu mal por ser minoria...E que também dá para pensar sobre as ideias formadas sobre o tema da cor - e de como o preconceito a ele ligado pode afectar tanta gente...

    Gostei de ler; está muito bem contada.
    Um abraço amigo e boa semana.

    Vitor

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  2. Maria: Que belo poema nos faz refletir muito sobre o racismo
    existente no mundo até os dias de hoje.
    Eu acredito , que é exatamente assim ,
    que se senti quando existe minoria de brancos ou negros.
    Um feliz final de semana beijos ,Evanir.

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  3. Minha querida amiga, tocou num tema muito sensível e de uma forma
    sublime. Há racismo de ambos os lados. Gostei muito.
    Um bj.
    Irene Alves

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