sábado, 3 de maio de 2014

Minha Mãe, Minha Mãe! Poema de Guerra Junqueiro

 
 
Minha mãe, minha mãe! ai que saudade imensa,
Do tempo em que ajoelhava, orando, ao pé de ti.
Caía mansa a noite; e andorinhas aos pares
Cruzavam-se voando em torno dos seus lares,
Suspensos do beiral da casa onde eu nasci.
Era a hora em que já sobre o feno das eiras
Dormia quieto e manso o impávido lebréu.
Vinham-nos da montanha as canções das ceifeiras,
E a Lua branca, além, por entre as oliveiras,
Como a alma dum justo, ia em triunfo ao Céu!...
E, mãos postas, ao pé do altar do teu regaço,
Vendo a Lua subir, muda, alumiando o espaço,
Eu balbuciava a minha infantil oração,
Pedindo ao Deus que está no azul do firmamento
Que mandasse um alívio a cada sofrimento,
Que mandasse uma estrela a cada escuridão.
Por todos eu orava e por todos pedia.
Pelos mortos no horror da terra negra e fria,
Por todas as paixões e por todas as mágoas...
Pelos míseros que entre os uivos das procelas
Vão em noite sem Lua e num barco sem velas
Errantes através do turbilhão das águas.
O meu coração puro, imaculado e santo
Ia ao trono de Deus pedir, como inda vai,
Para toda a nudez um pano do seu manto,
Para toda a miséria o orvalho do seu pranto
E para todo o crime o seu perdão de Pai!...

(...)

A minha mãe faltou-me era eu pequenino,
Mas da sua piedade o fulgor diamantino
Ficou sempre abençoando a minha vida inteira,
Como junto dum leão um sorriso divino,
Como sobre uma forca um ramo de oliveira!
 
Guerra Junqueiro
(1850 - 1923)
 

3 comentários:

  1. Gostei desta poesia de Guerra Junqueiro. Ainda há muitos homens
    (felizmente) que sabem enaltecer a mulher.
    Bj.
    Irene Alves

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  2. Com muito carinho mesmo atrasada
    venho te deixar um abraço pelo dia das mães.
    Uma abençoada semana beijos meus.
    Evanir.

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  3. Olá, Maria da Fonseca!

    Com um atraso imenso mas espero que ainda a tempo, cá cheguei eu.
    É uma bonita homenagem à figura da mãe, sob a forma de lindo poema - que não conhecia.A minha, ainda a tenho;a fazer em breve 94 anos, cada vez mais sofridos...

    Um abraço amigo
    Vitor

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