segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Fevereiro a Florir



Que te pareces comigo,
Árvore do meu jardim,
Já eu tinha percebido,
Uma irmã igual a mim.



Mas agora foi demais,
Ver tuas mimosas flores
Nos ramos secos e nus,
A atrair admiradores!



Lesta corri para casa
Em busca do calendário.
Estamos no último dia
Deste Fev’reiro tão vário.



Peguei depois na caneta
E rabisquei no papel
Estes tão singelos versos
De rima sóbria, fiel.



Porque os q’ria escrever hoje,
Antes de tu, abrunheiro,
Te enfeitares de brancas flores,
Foi desejo verdadeiro.



Modestas as redondilhas,
Flores artificiais,
Não se comparam às tuas,
Formosas e naturais.



Imploro ao Senhor Meu Deus
Para te rever assim.
Sei que me vais encantar
Bela árvore do jardim!

Maria da Fonseca





domingo, 27 de fevereiro de 2011

Domingo à Beira Tejo


foto de J. Bastos Baptista


Do primeiro andar do pub,
Vejo o Tejo em seu esplendor.
Enfunadas vão as velas.
Abençoa o Redentor.


O Sol 'stá a bronzear
Quem petisca na varanda.
E o comboio além na ponte,
Sua marcha, não abranda.


Passeia-se à borda d'água
Entre carros de bebé
E fogosas bicicletas.
As famílias vão a pé.


Debaixo da ponte pênsil,
Escuta-se a vibração
Da metálica estrutura,
Das margens, a ligação.


A tarde vai a cair
Na precoce Primavera.
As pessoas 'stão saudosas,
Parece longa a espera.


Suave, larga, ondulada,
A água do Tejo brilha.
Eu vou recordar-te assim,
Ó meu Deus, que maravilha!


E ao afastar-me do rio,
Inundando o ambiente,
Deixo uma luz preciosa
Do lado do Sol poente.

Maria da Fonseca

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Prenúncio da Primavera




Penso espreitar-te daqui,
De mim ‘stás muito afastada,
Mas há pouco fui aí
E fiquei maravilhada.



Linda magnólia rosada,
Cada rebento, uma flor!
Cada pétala pintada
Pela mão do Criador!



A meio de Fevereiro
Primavera prenuncias,
E és sempre a que primeiro
Vens colorir os meus dias.



Apesar do teu recato
Bem junta à maternidade,
Atrais a vista e o olfato
E encantas com amizade.



As abelhinhas felizes
Sugam o néctar das flores
Em cor-de-rosa e matizes,
Cumuladas de louvores.



O chão juncado de pétalas
Torna efémera a lindeza,
E só restarão as sépalas
Dentro de dias, princesa.



Serás bela novamente
A par de outras irmãs,
Verdes folhas de presente
Em orvalhadas manhãs.

Maria da Fonseca


sábado, 19 de fevereiro de 2011

Ilusão



Cai a noite no Estoril,
Recende ainda o jardim.
Uma doce sensação
Existe dentro de mim.



Dois lindos astros suspensos
Brilham num azul sem par.
A Lua está no crescente
E Vénus a acompanhar.


 

A estrela vespertina
Em tão bela conjunção!
Dispôs-se melhor no céu
A dar-nos esta ilusão.



Para afastar os meus olhos,
Deus não dá essa coragem.
Sinto que o momento é breve,
Quero reter sua imagem.



Amanhã vem outro dia.
E a posição aparente
Destes dois corpos celestes
Será outra, certamente.


Uma tão grande beleza
Canto aqui em pobre verso.
Senhor, como Vos dou graças
Pelos Dons do Universo.

Maria da Fonseca


sábado, 12 de fevereiro de 2011

O Abelharuco

Fotografia oferecida por um amigo


Ave linda, colorida,
A encantar os artistas,
Não sabemos se tens alma... 
Mas a todos nós conquistas.


Beleza da Criação
Com as cores do arco-íris,
Guardámos a tua imagem
'Inda antes de partires.


Migratória, nossa irmã,
A nós também te assemelhas,
Só não podemos voar
Nem perseguir as abelhas.


Assim ficarás aqui
Pousada no areal,
Esperaremos por ti
Neste nosso Portugal.


Viajarás doutro modo
Pelo blogue divulgada,
Na internet a adejar,
Formosa ave iluminada!

Maria da Fonseca

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Unidos pelo Oceano




Este Oceano tão cantado
Na língua de nossos Pais
Em verso bem preparado
Por poetas geniais!


Enérgico e poderoso
De ondas tão imponentes,
Um grande mar corajoso
A unir os dois Continentes.


As águas que agora banham
Nossas praias tão amadas,
Amanhã as vossas molham,
Belas areias douradas.


O Oceano vai e vem...
Daqui parte co'a saudade
De quem só vos quer o bem,
Daí traz vossa amizade.


Todos os humanos seres
Amigos e destemidos,
Por beleza e viveres
São sempre mais atraídos.


Meus sonhos de regressar,
Os teus de vir conhecer,
Corações a augurar
Encontro ao entardecer!

Maria da Fonseca

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Se eu Pudesse...



Se um dia eu pudesse
Ser menina novamente,
Correria o mundo inteiro
Eu busca de ti somente.

Ter-nos-íamos achado
Em tempo de versejar.
Teríamos dado beijos
E passeado ao luar.

Ai, se voltar eu pudesse,
Não deixaria partir
Meu amor pra longes terras,
Sem ao menos também ir.

O meu jovem coração
Não teria entristecido.
Bem cedo na minha vida,
Mais feliz eu t'ria sido.

Tenho a certeza, querido,
Que sempre a amar-te vivi,
Minha alma destinada
Desde o dia em que nasci.

Maria da Fonseca


sábado, 5 de fevereiro de 2011

A Pena e o Tinteiro de Marquesa de Alorna


Marquesa de Alorna
(1750-1839)


A Pena e o Tinteiro


Uma pena, presumida
De escrever grandes sentenças,
Falava das suas obras
Tão sublimes como extensas.



- "Sem mim, - disse ela ao tinteiro -
Pouca figura farias:
Cheio de um licor imundo,
Sem mim, triste, que serias?"



O tinteiro inspirado
Vazou logo a tinta fora,
E voltou-se para a pena,
Dizendo-lhe: - "Escreve agora!"



Assim responde aos ingratos
Muitas vezes a razão:
Muita gente há como a pena,
Como o tinteiro outros são.

Marquesa de Alorna


sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Retalhos da Vida


Quadro de Claude Monet

Minha manta tem retalhos
Azuis, alegres, floridos,
Entre milhentos trabalhos
Pelo destino reunidos.



Os que foram mais pesados
Surgiram neutros, cinzentos.
Cosi-os mais espaçados,
Pressurosa, sem lamentos.



Se uma lágrima caía
Sobre um retalho da vida,
Minha agulha a compreendia,
Ao se afastar comovida.



E a manta com pontos lassos
Ficou mais fina, mais frágil.
Não pesa tanto nos braços,
Ainda me sinto ágil!



Agora vou-a alindando
Com linha feita de amor.
Nos negros eu vou bordando
Uma saudade, uma flor.



Quero levá-la comigo
Já esgaçada, sem surpresa.
O Senhor, meu grande Amigo,
Me perdoa, com certeza!

Maria da Fonseca

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

A Magnólia



Espera a doce magnólia
Carregada de rebentos
Que o Janeiro vá embora
Com seus dias friorentos.


Será pois em Fevereiro
Que a nobre mãe Natureza
Fará brotar lindas flores
Nas arves da redondeza.


E por assim me encontrar
Ao norte do nosso mundo
Aguardo com confiança
O que com Fé eu difundo.


Quão rigoroso o Inverno
Pra nós que somos humanos
Mas as plantas se enaltecem
De Deus cumprindo seus planos.


E a magnólia fecunda
Que é prova disso Senhor
Irá rescender magnífica
Cheia de flores de Amor!

Maria da Fonseca


terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Sol da minha Vida



 Os teus olhos ‘stive a olhar
Para ver se acordavas,
Davas p’la minha presença,
Teu rosto iluminavas.



Porque sereno dormias,
Desisti de te chamar.
Talvez sonhasses comigo
E eu me deixei encantar.



Já ia alta a manhã,
Afastei-me silenciosa.
Lá fora o nevoeiro
Tinha aparência chuvosa.



A pressentir meu pensar
Mui breve tu acordaste.
Procurou-me o teu olhar
E um sorriso me ofertaste.



Alegrou-se a nossa casa
Na manhã húmida e triste.
O meu Sol nasceu aquando
Tu, meu amor, me sorriste.

Maria da Fonseca